Mônica e Enzo e Todos os Dias é um review duplamente especial para o The Review Books, afinal, marca a nossa volta depois de um tempão longe e é o nosso primeiro post de parceria. Alias, o primeiro de alguns bem incríveis, vocês vão ver.
Fazer essa parceria foi um desafio pessoal para mim. Normalmente, e eu não me orgulho disso, eu só leio literatura estrangeira, o que é até engraçado, porque aos 6 anos quando eu comecei a devorar livros a maioria que eu tinha a mão eram livros nacionais. Para se ter uma ideia, a minha primeira memória literária é de Contos Fluminenses do Machado de Assis, que eu li aos 8 anos.
E não é nenhum tipo de trauma ou coisa assim, eu só sinto que sou muito mais crítica com livros nacionais do que com os de fora. Acho que o problema é a identificação, afinal eu não sei como é uma fazenda no sul do texas e qualquer coisa que alguém escreva sobre ela vai ser meio que “verdadeira”, mas já o dia-a-dia de uma escola no Rio eu sei bem como é.
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Outra coisa é que eu acho que desperdiçamos muito o nosso talento escrevendo histórias brasileiras imitando as gringas. Mas, isso é história para um post só sobre isso, hoje eu tô aqui para falar de Mônica e Enzo e Todos os Dias, escrito pela Denise Flaibam.
Obrigada Denise pela confiança com o seu livro e desculpa a demora por essa resenha.
Você pode conhecer a Denise dos ótimos livros de fantasia que ela escreve, o que torna Mônica e Enzo e Todos os Dias uma surpresa muito bem vinda. Ela é paulista do interior e tem na bagagem livros de fantasia e ficção e romance, como Rubi de Sangue, As Coisas que Perdemos e Mundo Invertido.
Mônica e Enzo e Todos os Dias conta a história da Mônica, uma adolescente de 17 anos, com uma família enorme e peculiar cheia de irmãos, uma criatividade que extravasa pelas lentes da sua câmera e uma paixonite mais que aguda pelo astro do time da escola o Enzo.
Mônica é a garota que a maioria de nós foi no colegial, ansiosa e tímida, que não é nem popular e nem “loser” (eu odeio essa expressão, assim que arrumar outra eu venho trocar. Sugestões?) e ela esta bem feliz com isso. Ser a garota que não chama a atenção, uma Beige Girl como diria Tarryn Fisher.
Mas essa vida de invisibilidade fica um pouco inviável quando ela ganha, por acaso, a tarefa de fotografar a rotina do time de futebol da escola para o jornal estudantil. O grande problema? Enzo, seu eterno crush, é o capitão dos Dragões.
Duas coisas que eu tenho que bater palmas para esse livro, se por um lado eu gritei com alguns esteriótipos, por outro eu queria abraçar a Denise por fugir deles. Enzo Spozito da Silva é capitão do time, aclamado, admirado, e joga na posição de goleiro. Isso mesmo, o craque do time é um goleiro e isso foi muito legal, por ser normalmente uma posição preterida e de baixo prestígio e o fato dele ser negro também é maravilhoso e foi um soco no meio da minha cara, por que a preta aqui tava imaginando um personagem branco. É, me senti idiota depois, admito.
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Outro ponto que eu amei bastante foi a cadência da escrita, o livro tem um ritmo gostoso de ler e mesmo que tenha mais descrições que diálogos, isso não torna a leitura maçante e cansativa. Pelo contrário, isso torna os pontos de vistas e personagens mais divertidos.
A experiência da autora em história de fantasias transforma o romance adolescente de Enzo e Mônica em algo a mais, os personagens secundários não estão ali só para compor cena, como muitos livros que lemos por aí. Os melhores amigos de Mônica, Ruth e Rodolfo, assim como a família de Mônica, tem o desenrolar de suas próprias histórias em completa harmonia com a história principal e tudo se encaixa de uma maneira que só autores de fantasias e seus arcos, mundos e universos são capazes de fazer.
A dinâmica de todas essas histórias constrói uma história sólida e divertida.
Uma das poucas críticas que tenho em relação ao livro é a falta que eu senti da técnica “mostre, não conte”, por um livro com mais descrição do que diálogo, senti falta de descobri as coisas por mim mesma e não pelos personagens, mas isso não chega a ser nem um ponto negativo e sim uma expectativa pessoal que não foi alcançada (criarei lhamas e não expectativas da próxima vez, eu sei).
Outro ponto de desconexão entre mim e o livro, foi infelizmente a própria Mônica, ela flertou fortemente com aquela estética gringa que eu disse que me incomoda nos livros brasileiros e ela é uma pequena coisinha egocêntrica. Não que a personagem seja egoísta, mas enquanto está se descrevendo para nós os leitores ela se auto elogia de um jeito que me irritou um pouco. Sabe? Deixa eu decidir de você é extraordinária, não me ensine que são os detalhes que deixam as coisas especiais e incríveis.
Acho que eu não tenho paciência com adolescente nem na literatura haha
Mônica e Enzo e Todos os Dias é um livro adolescente, fofo, delicado e que fala de um momento muito especial: o primeiro amor. Os personagens são bem construídos e te tem na mão fácil, a leitura é fluída e na medida certa e é ótima para quem gosta de young adults que não são mais do mesmo. Uma ótima porta para se conhecer o trabalho da Denise Flaibam se você ainda não conhece.
Então é isso seguiamores, não esquece de dar coraçãozinho nesse post e me contar o que você achou do livro se já leu e se não leu corre para ler que vale muito a pena.