RICARDO E VÂNIA | CHICO FELITTI | THEREVIEBOOKS.COM.BR
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O nome desse livro pode não fazer você se lembrar da história de cara, mas com certeza você sabe um pouco dela. Em 27 de outubro de 2017, o jornalista freelancer Chico Felitti postou numa página do buzzfeed a matéria que renderia 1 milhão de acessos em menos de 24 horas de publicação, intitulada “Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece”, o texto viral dava conta de narrar a história por trás de uma das lendas urbanas mais conhecidas de São Paulo.

Carioca de berço e vivência, esse foi meu primeiro contato com a história de Ricardo, que passou grande parte da sua vida marginalizado e estigmatizado por sua aparência. O texto de Felitti é longo, lembro que levei quase uma hora, assim de madrugada, para ler. Mesmo com sua linguagem fluída e a escrita leve, a história do “Fofão da Augusta” angustia, emociona, perturba, faz você morrer de amores por uma figura mítica que passou a vida toda como bizarro, mas que podia ser qualquer um, que fez o que era preciso para sobreviver, numa sociedade homofóbica e heteronormativa.

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A primeira coisa que me encantou nessa reportagem, foi a curiosidade de Felitti. Me identifiquei de cara, pela avidez dele em saber o que havia por trás daquela pessoa que tanta gente conhecia, mas rejeitava. Foi essa necessidade de conhecer e contar a história do até então Fofão, que fez com que Ricardo pudesse enfim encontrar sua paz com a identidade e prestígio que merecia.

Bem, da reportagem de mais de 10 mil caracteres, Ricardo viraria mais que uma lenda, ganharia um livro e um filme sobre a sua vida. Pena que quando as coisas começaram a ficar mais fáceis em sua vida, ele morreu. Mas sua história continua viva com a narração de Felitti e do amor de sua vida, a Vânia. E é isso que vamos conhecer nesse livro.

Li Ricardo e Vânia, como li a reportagem, de uma vez numa madrugada (na verdade foram duas), terminei com os olhos ardendo de cansaço, alegria e tristeza e uma vontade imensa de saber mais ainda sobre a vida de Ricardo e da Vânia.

A estrutura do livro seguem a mesma da reportagem e do podcast do Buzzfeed, começa com Ricardo no hospital e passa por sua história enquanto Chico e sua mãe Isabel, desvendam sua vida enquanto buscam seu documentos para tirar o estigma de “desconhecido” no cadastro de internação, mas vai além. Recheia as páginas com ainda mais detalhes e complementa com a narrativa da história de Vânia, que foi o grande amor da vida de Ricardo e que passa como uma vírgula na reportagem.

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Ricardo e Vânia é uma biografia de um desconhecido, que faz você querer ter conhecido seu personagem antes. É uma história real sobre como a sociedade e os padrões podem moldar a vida das pessoas. A história tem um teor romantizado em sua narrativa, mas não de um jeito ruim. As decisões ruins de Ricardo vão ficando mais palatáveis e menos críticas pela voz de Chico.

Primeiro por que já começamos pelo final e sabemos que a história não acaba bem, o que foi uma ótima opção de storytelling que nem sei se foi intencional (pelo talento de Chico, diria que sim) e também por que vemos que as consequências por essas escolhas foram pagas, as vezes me pego pensando nessa história e achando que Ricardo pagou caro demais por seus erros.

Porém tento sempre lembrar de uma das falar de Carlos, amigo de longa data de Ricardo, que diz que eles foram felizes. Então, mesmo em meio a miséria das ruas, do estigma pela deformação do seu rosto e pela solidão de ter perdido seu grande amor, Ricardo foi feliz.

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A relação entre Ricardo e Vânia é para mim um dos pontos mais romantizados da biografia. Vânia, que hoje vive na França e se sustenta com a prostituição, chegou no velho mundo depois de largar Ricardo. Em nenhum momento, nem ela e nem Chico, se aprofundam muito sobre o porque ela abandonou o companheiro, a cortina de fumaça deixa entrever que a relação dos dois era possessiva, mas não abrange sobre o quanto. Pensando em um relacionamento homossexual dos anos 80/90 em uma cidade pequena com diferença de idades, eu pessoalmente acho que a situação era bem ruim e problemática, mas isso também não define o que Ricardo e Vânia eram, só torna a narração um pouco imparcial.

Como se já que Ricardo foi achincalhado toda a sua vida pelo que se tornou, não precisasse ser reconhecido pelas atitudes no passado. Mesmo assim, é cristalino que ele tinha um gênio forte e um temperamento explosivo (Ricardo sofria de esquizofrenia e só quem já conviveu com um, diagnosticado ou não, consegue entender que a pessoa não é má ela é envolta em nuances). O que vejo, também como um modo de defesa, afinal não é fácil ser gay hoje, imagina nos anos 80.

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De ante mão, espero não estar olhando para as coisas com viés errado e fazendo um recorte que não existe. Mas foi o que essa história me passou.

Enquanto lia o livro, um dia depois de ouvir a participação do Chico Felitti no podcast Um Milkshake Chamado Wanda, fui sendo apresentada para toda a cena underground paulista dos anos 80, para uma Augusta muito diferente da que eu havia conhecido em 2013 e ainda mais da que eu vi no primeiro fim de semana de agosto de 2018. No livro, conhecemos personagens importantes que pautaram a região antes do movimento de gentrificação que ocorre hoje, nomes como Andréia de Maio e Val foram aparecendo e eu fui parando o livro para ir buscar saber sobre esses novos personagens.

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O livro Ricardo e Vânia tem esse poder, de fazer conhecer pessoas, lugares e fatos da história da nossa grande metrópole que ninguém sentiu vontade de contar, de uma forma que não estigmatizasse, enchesse de esteriótipos, julgamentos e apontadas de dedos.

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A parte que conta a trajetória de Vânia, é muito simbólica e ao mesmo tempo feliz e triste. Ela aparece na primeira parte da história de Ricardo como seu namorado Wagner, antes da transição de gênero, que só ocorreu em Paris, em meio as várias identidades e reinvenções que fez de si mesma durante sua trajetória no mundo da prostituição.

Vânia revolucionou o mercado na França quando decidiu anunciar seus serviços em revistas héteros. Apesar de ser bem sucedida na profissão que lhe escolheu, também teve uma vida baseada em altos e baixos, como a de Ricardo. Hoje, aos 55 anos, ainda se banca com a prostituição e só se assumiu prostituta para sua família com o lançamento do livro.

“Ela sempre manteve contato com a família, que sabia da transição, mas não que ela trabalhava com sexo. Ela está muito animada, é uma show-woman. E acho que está animada também por essa segunda saída do armário. Ser prostituta é ainda mais estigmatizado do que ser trans.”
Chico Felitti para revista Trip

Ricardo e Vânia para mim é um grande marco da cultura pop nacional atual e deveria estar na cabeceira de todos os curiosos e descoladinhos de plantão. E quem sabem outros Ricardos de outros lugares e cidades não tenham suas histórias contadas e saiam do submundo das lendas urbanas?

Ricardo e Vânia. O maquiador, a garota de programa, o silicone e uma história de amor, assim com esse título comprido mesmo é uma publicação da editora TodaVia, com 192 páginas e a capa assinada pela Elohim Barros e Renata Mein. Comprando o livro pelo nosso link, você ganhar 20% de desconto e ainda ajuda a gente a manter o The Review Books. E não esquece, se você já leu o livro, deixa aqui embaixo o que você achou e vamos conversar.

Até a próxima resenha, seguimores.

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7 thoughts on “Ricardo e Vânia » Chico Felitti”

  1. Olá tudo bem? Não conhecia a obra, mais achei a história bem curiosa, gostei da forma como resenhou o livro de forma sincera e sucinta despertando nossa curiosidade, vou buscar saber mais sobre o conteúdo, beijos!

  2. Oi, que bom saber que temos um livro sobre a reportagem (que me lembro de ter lido há algum tempo). Sua resenha está ótima, parece ser uma obra que nos deixa aquela sensação agridoce pelas dificuldades que os biografados enfrentaram e por nos mostrar a vida em outras décadas.

  3. Olá!

    Não sabia que tinha um livro sobre essa reportagem. Confesso que estava totalmente por fora dessa história, mas que parece muito tocante. Fiquei curiosa para conhecer um pouco mais e sentir todas as sensações, assim como você.

    Beijos,
    http://www.psamoleitura.com

  4. Olá! Eu não tenho o hábito de ler livros com essa temática, mas achei super válido e necessário. E um pouco triste, pra ser sincera. Porque além da história dele ser triste, temos aí a maneira como ele foi tratado durante a vida, marginalizado por ser ele mesmo, julgado por ser diferente do que deveria ser ‘normal’. Vou procurar mais sobre a história dele, me interessou muito!

    Bjoxx ~ Aline ~ http://www.stalker-literaria.com

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