Em uma rápida pesquisa no google você vai ver que há uma certa “regra”, quando se trata de escrita, que abomina e proíbe prólogos. Isso porque, criou-se uma certa mitologia de senso comum de que prólogos são um falso início da narrativa e que as informações que se encontram nesse prólogo podem ser incluídas durante a história, como flashbacks ou até cenas inteiras, sem prejudicar o entendimento do leitor.
Mas será que esse senso comum é uma regra que você nunca jamais poderá sonhar em quebrar? Nesse post, vamos tentar entender como foi criado essa norma contra prólogos e como usá-lo em nosso favor nas nossas histórias.
Esse é o sexto post da série Escrevendo um bestseller: um guia prático para escrever o seu próprio livro de sucesso, e você pode acompanhar todas as postagens que já foram feitas, no menu abaixo:
Escrevendo um bestseller #1 » O Começo
Escrevendo um bestseller #2 » O Primeiro Parágrafo
Escrevendo um bestseller #3 » Como Achar sua Individualidade
Escrevendo um bestseller #4 » Aprenda a escrever com suas leituras
Escrevendo um bestseller #5 » Aprendendo Storytelling com a Pixar
Escrevendo um bestseller #6 » Por que usar Prólogos
Escrevendo um bestseller #7 » Como se livrar de Bloqueio Criativos
Escrevendo um bestseller #8 » Conhecendo o seu Gênero
Escrevendo um bestseller #9 » O Primeiro Capítulo
Escrevendo um bestseller #10 » Construindo sua audiência antes da publicação
Escrevendo um bestseller #11 » 8 maneiras para você continuar motivado a escrever
Escrevendo um bestseller #12 » Criando personagens autênticos e reais
E então, vamos lá aprender um pouco mais sobre o recurso mais odiado da literatura moderna?
O que é um prólogo?
Você vai achar muitos sinônimos de prólogo por aí. Entretanto o termo que nasceu na Grécia e era usado para se anunciar o tema das tragédias gregas, antes que a orquestra e o coro entrasse, está muito longe de definir o uso do prólogo hoje como recurso literário.
Basicamente, aqueles que se atrevem a usar prólogos, usam ele como uma ferramenta útil para delinear o plano de fundo da sua história. Apresentando de forma rápida todo o background sem usar outros artifícios, como por exemplo flashbacks.
Segundo, ele também pode ser bem útil na hora de dar ao leitor a pergunta do livro. Despertando a curiosidade e apresentando uma situação ou seus personagens de forma descontraída.
Resumindo, prólogo é um recurso literário usado para introduzir um ponto de vista, apresentar um panorama dos eventos descritos na narrativa ou despertar o interesse do leitor sobre a história contada.
Meu livro precisa de um prólogo?
Se você está estudando para então começar a sua escrita, essa pode ser a primeira vez que você se depara com essa discussão e pode estar em dúvida sobre usar ou não prólogos. Não se preocupe, de forma simples e objetiva, vamos juntos trilhar o caminho de decisão sobre usar ou não este recurso.
- Você pode juntar seu prólogo e seu primeiro capítulo sem que perca o sentido?
Então muito provavelmente seu prólogo não acrescenta muita coisa a sua história e sua relevância é baixa. Você pode descartar o seu uso. - Seu leitor vai precisar de informações básicas para entender sua história?
Se sim, considere escrever um prólogo dando essas informações a ele, antes que a história “real” começe. - Quero estimular a expectativa do meu leitor.
Essa dúvida/deleite que você vai oferecer tem alguma estratégia na construção da sua história? Como por exemplo, dar um pedaço do fim, para então levar o leitor todo o caminho até aquele momento. Se não, trabalhe melhor suas técnicas de criar suspense e invista no seu primeiro capítulo.
Tenha medo de perder um bom texto por ser um prólogo, por ele ser grande demais.
Alguns leitores (estou me acovardando de escrever a grande maioria aqui) tem a rotina de pular a leitura de prólogos, ainda mais quando estes são grandes demais. Um bom exemplo disso é o livro A Pedra Filosofal da JK Rowling, como apontou Therese Walsh do blog Writer unboxed:
Harry Potter e a Pedra Filosofal de JK Rowling é contada em um POV de 3ª pessoa (Harry), mas seu primeiro capítulo é bem diferente, contado quando Harry era um bebê e alternando entre POVs oniscientes e 3ª pessoa (do Sr. Dursley e Dumbledore).
Rowling pode ter considerado colocar essa informação como um prólogo por causa daquelas vozes diferentes e do intervalo de dez anos entre ela e a próxima cena, mas ela não fez isso. A informação contida nessas primeiras páginas é crítica, ajuda a definir a história e torna mais facilmente digerida para os leitores. E tem 17 páginas.
Em suma, mesmo que esse seja um material de primeira linha para um prólogo, Rowlings apostou em fazê-lo um capítulo para ter certeza que seus leitores realmente lessem esse conteúdo e por isso não perdessem uma parte vital da história.
O que faz dos prólogos um bom prólogo?
Eu poderia responder essa pergunta em uma única linha, que conteria a seguinte frase: Curto, auto-suficiente e compreensível. Da mesma forma, que eu poderia transformar essa sessão em um artigo completo de mil palavras.
Um prólogo deve ser quase como um conto, ele deve ter seu grau de emancipação com a sua história, mas ao mesmo tempo completá-la. Sempre escreva prólogos com começo, meio e fim. Entretanto, não resolva nenhum conflito da sua narrativa nele.
Tenha um gancho forte em seus prólogos, mas nunca estrague isso com um primeiro capítulo medíocre, mantenha a chama acesa. Se você usou seu prólogo para instigar o leitor, continue o atiçando no capítulo um.
Adicione informações básicas para seu enredo e personagens nos seus prólogos. Da mesma forma, crie uma sensação única para que seu prólogo se sobressaia do restante da sua história. Pode ser um ponto de vista diferente, um intervalo de tempo, você define.
Como já falei mil vezes antes, leia prólogos diversos para obter ideias para você. O primeiro princípio da boa escrita é uma leitura incessante, ou seja, quanto mais e melhor você lê, melhor você desenvolve sua habilidade de escrever. Depois disso, o segundo princípio é escrever compulsivamente, escreva até quando não tiver o que escrever.
Estou pronto! Quero usar prólogos em meus livros.
Vá em frente e use-os! Primeiro, porque regras nasceram para serem quebradas. Segundo, porque se você chegou a essa conclusão, entendeu e estudou todos os pró e contras de se ter ou não um prólogo em seus livros.
Recapitulando, um prólogo bem utilizado pode ser um recurso para:
Criar Interesse: prólogos são capazes de despertar a curiosidade do leitor em relação aos eventos da história. Ou seja, essas ocorrências são como uma demonstração que vai ajudar a segurar o interesse e os prender na narrativa. Portanto, em via de regra, mantenha seu público intrigado.
Descrever eventos: Para evitar o uso de escapes, como memórias e flashbacks, use o prólogo como recurso para situar seu leitor na sua história, descrevendo eventos passados de suma importância que não estão na linha do tempo da sua história.
Ou até mesmo, eventos do presente ou do futuro, usando a inversão da jornada do herói. Assim seu leitor vai se interessar sobre como seu personagem chegou até ali.
Demonstrar outros pontos de vistas: Um belo exemplo desse tipo de prólogo, é quando você precisa informar algo que não é de conhecimento da voz que narra o seu livro. Ou seja, um recurso útil em livros em primeira pessoa, pois dá ao autor espaço verbal que ele dificilmente conseguiria elaborar no decorrer da história.
Localizar o leitor em um mundo: Recurso muito utilizado em fantasias e ficção científica, usar prólogos para situar a leitura que se passa em um mundo próprio ou um planeta desconhecido é uma boa forma de uso. Acima de tudo, por ser uma lugar fora da linha do tempo, onde você pode destacar informações específicas e necessárias para sua história.
Por hoje é só, a minha lição de casa, que você me contará aqui nos comentário é:
Vá até sua estante ou seu leitor de livros e vasculhe sua coleção em busca de prólogos. Responda duas perguntas, “quais prólogos funcionaram?” e “quais não deveriam existir?”. Ou seja, vamos aprender o que fizeram tais prólogos serem muito bons e te prenderem a narrativa e quais arrastaram a história e te entediaram.